Ali não era proibido jogar lixo. A placa fotografada por Arthur Menescal era
de outro lugar. O nome era dito no superlativo, Lixão da Estrutural. O espaço era
modo de vida e território de sobrevivência para muita gente. São tipos anônimos os
que contam a memória do Lixão da Estrutural no livro fotográfico de Menescal,
Estrutural Aterrada. Não há legenda às fotos, um gesto desnecessário à intensidade
do que se vê.
de outro lugar. O nome era dito no superlativo, Lixão da Estrutural. O espaço era
modo de vida e território de sobrevivência para muita gente. São tipos anônimos os
que contam a memória do Lixão da Estrutural no livro fotográfico de Menescal,
Estrutural Aterrada. Não há legenda às fotos, um gesto desnecessário à intensidade
do que se vê.
O espaço é um campo vasto, habitado por humanos, aves e insetos. Interessa a
Menescal a vida que resiste, até mesmo no que se considera o resíduo do humano. As
fotos não são uma denúncia tampouco uma defesa da vida no lixo. Não há tomada de
posição óbvia nas fotos. Menescal esteve no lixão, conversou com habitantes, e
registrou instantâneos de suas intimidades. É um retrato da existência – famílias na
porta de casa, trabalhadores de mãos sujas e cansadas da coleta, galpões de
reciclagem. Há resignação em cada foto deste livro.
Menescal a vida que resiste, até mesmo no que se considera o resíduo do humano. As
fotos não são uma denúncia tampouco uma defesa da vida no lixo. Não há tomada de
posição óbvia nas fotos. Menescal esteve no lixão, conversou com habitantes, e
registrou instantâneos de suas intimidades. É um retrato da existência – famílias na
porta de casa, trabalhadores de mãos sujas e cansadas da coleta, galpões de
reciclagem. Há resignação em cada foto deste livro.
O Lixão da Estrutural não existe mais. Foi aterrado, pois era considerado
insalubre, ruim para a vida na cidade. Com o seu desaparecimento, o povo do lixão se
viu sem território e forma de sobrevivência. Saíram das casas e foram viver em
aluguéis sociais – um desamparo típico das políticas de deslocamento em nome do
desenvolvimento. Menescal fotografou a resistência: os trabalhadores se arrumando
entre o trabalho autônomo e as cooperativas, as conversas com políticos para o que se
chamou CPI do Lixo.
insalubre, ruim para a vida na cidade. Com o seu desaparecimento, o povo do lixão se
viu sem território e forma de sobrevivência. Saíram das casas e foram viver em
aluguéis sociais – um desamparo típico das políticas de deslocamento em nome do
desenvolvimento. Menescal fotografou a resistência: os trabalhadores se arrumando
entre o trabalho autônomo e as cooperativas, as conversas com políticos para o que se
chamou CPI do Lixo.
O livro acompanha a vida das pessoas da casa ao trabalho, do lixo à política.
Seguimos os personagens de um escândalo urbano na intimidade da existência. É do
olhar atento e respeitoso de Menescal, das cores intensas como tons de poeira e
sujeira, que somos apresentados à nossa própria imagem no espelho partido da desigualdade. Esse povo é parte de quem somos, do lixo que produzimos, dos
privilégios que não queremos partilhar. O livro é um testemunho do quem não pode
ser esquecido.
Debora Diniz - 2018
Seguimos os personagens de um escândalo urbano na intimidade da existência. É do
olhar atento e respeitoso de Menescal, das cores intensas como tons de poeira e
sujeira, que somos apresentados à nossa própria imagem no espelho partido da desigualdade. Esse povo é parte de quem somos, do lixo que produzimos, dos
privilégios que não queremos partilhar. O livro é um testemunho do quem não pode
ser esquecido.
Debora Diniz - 2018

































